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sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Basta! Estou Farto!


Tenente-General Mário Cabrita - "Basta! Estou Farto!"

Aposentei-me após 42 anos de serviço efectivo, com uma pensão que me permitia enfrentar o futuro com confiança. Contudo, os governos foram tomando medidas gravosas para os portugueses, que vão empurrando os mais desfavorecidos para o abismo. Também eu sinto que estou lá perto e, por isso, chegou a altura de dizer BASTA, porque:
ESTOU FARTO de políticos mentirosos que na oposição prometem tudo e que no Governo nada fazem.
ESTOU FARTO de políticos despudorados que concorrem a eleições com um programa e que, quando eleitos, o rasgam sem ponta de vergonha.
ESTOU FARTO de políticos autistas que não percebem que a elevada abstenção representa um não ao actual sistema político.
ESTOU FARTO de políticos malabaristas que jogam com números já hoje duvidosos e amanhã falsos, tentando fazer de nós estúpidos e ineptos.
ESTOU FARTO da promiscuidade entre políticos e poderes financeiro e empresarial.
ESTOU FARTO de ministros que são nomeados e que depois se volatilizam, tal como o dinheiro dos contribuintes que o Estado coloca nos bancos falidos.
ESTOU FARTO de pagar mais impostos, ver a pensão reduzida e a dívida a aumentar.
ESTOU FARTO de ouvir dizer que o problema são os juros da dívida e não ver coragem para negociar a sua reestruturação.
ESTOU FARTO de banqueiros e de presidentes de empresas com prejuízo receberem milhões de indemnização e definirem para si próprios reformas obscenas.
ESTOU FARTO de bancos e empresas com conselhos de administração de 20 membros a ganharem quantias exorbitantes.
ESTOU FARTO de uma AR cujos deputados passam parte do tempo a trabalhar para empresas privadas.
ESTOU FARTO das juventudes partidárias que só produzem políticos incultos, arrogantes e inexperientes.
ESTOU FARTO de ex-ministros muito críticos, esquecidos de que já tiveram o poder e não resolveram os problemas do País.
ESTOU FARTO dos reguladores que não regulam nada e no final ainda são promovidos.
ESTOU FARTO de uma classe dirigente com salários muito superiores aos dos seus colegas europeus, enquanto o salário mínimo nacional está muito abaixo da média europeia.
ESTOU FARTO das fugas de informação que beneficiam os depositantes que têm 10 Meuro e nunca os que têm 10 000euro.
ESTOU FARTO de um sistema judicial que está estruturado para proteger os fortes e poderosos e aniquilar os fracos e desprotegidos.
ESTOU FARTO de uma justiça lenta, inoperante e que deixa prescrever processos importantes.
ESTOU FARTO de ouvir dizer que o nosso sistema de pensões é insustentável porque o número de idosos é muito superior ao dos jovens, enquanto na Alemanha há percentualmente mais idosos e menos jovens do que em Portugal e o sistema ali é viável e as reformas intocáveis.
ESTOU FARTO de ser acusado, juntamente com os outros reformados e funcionários públicos, de sermos as gorduras do Estado, de termos vivido acima das nossas possibilidades e daí arcarmos com a maioria das medidas correctivas. Mas pergunto: e as gorduras dos gabinetes de governo e empresas? E as reformas de políticos e gestores de empresas?
ESTOU FARTO de ver o Governo corajoso a reduzir as pensões e medroso frente às PPP.
ESTOU FARTO dos offshores, das pessoas que lá colocam o dinheiro e dos governos incapazes de travar esta fuga aos impostos.
ESTOU FARTO dos empresários que obtêm lucros em Portugal e depois os aplicam no exterior.
Senhores governantes
Estou farto, quase a ponto de explodir. Sei que, tal como eu, estão milhões de portugueses que já perderam a paciência.
Por vezes tenho vergonha de viver num país que, hoje, é quase um Estado falhado. Mas não seguirei a sugestão do Sr. PM. Vou ficar. Pelas minhas filhas que ainda estudam e porque sou militar e amo a minha Pátria. E vou lutar com as armas que legalmente tiver ao meu alcance.
Deixo, contudo, um alerta: a História pode não se repetir, mas convém não esquecer que as actuais condições sociais e políticas não diferem muito das que se viviam na 1.ª República.
Em suma. Aspectos sobre os quais devemos meditar nestes dias difíceis.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

ALERTA ASSOCIADOS DO MONTEPIO: GRANDE PERIGO À VISTA



E-mail enviado a Eugénio Rosa:


Caro concidadão Eugénio Rosa, membro da lista C concorrente às últimas eleições do Montepio

Face à denúncia que faz da actual situação do Montepio, quero recordar que  no fim da última assembleia geral, depois de termos abandonado a sala., e, pessoalmente ter sido insultado pelo padre Milicias, contactei juntamento com outros concidadãos membros da lista c que nos garantiram que:

1- iam impugnar a assembleia geral de eleição dos novos órgãos de administração,por violações grosseiras do estatuto por parte padre Milicia-uma vergonha, como presidente da Assembleia Geral, a que assisti

2-sobre a gestãodo montepio que consideravam ruinosa   iam apresentar queixa no Banco de Portugal

3- idêntica diligência   sobre o modelo de governação e supervisão interna destas instituições.

Solicito digne informar-me das diligências feitas para honrar aqueles e outros compromissos.

Proponho uma convocação urgente da Assembleia geral com associados. Na ultima estiveram sobretudo trabalhadores, ao que parece devidamente enquadrados pelas chefias.

Os trabalhadores eram conhecedores desta situação e votaram massivamente nos eleitos.

Todavia a assembleia deve ter um regulamento democrático de funcionamento , o que, não pode acontecer se se mantiver que os inscritos têm 15 minutos para dissertarem, além de que a manipulação da assembleia por requerimentos à mesa da maioria tem de ser regulamentada e frenada.

Será preciso  frenar qualquer jogada. Somos 500 mil.

Com consideração

andrade da silva

domingo, 10 de agosto de 2014

O MH17 malaio foi abatido por caças do regime de Kiev

Análise chocante de um perito alemão:
O MH17 malaio foi abatido por caças do regime de Kiev
– "O avião não foi atingido por um míssil"

por Peter Haisenko [*]
..A tragédia do MH 017 malaio continua a confundir. Os registos do voo estão na Inglaterra e são agora avaliados. O que pode vir daí? Talvez mais do que se suporia. Será especialmente interessante a gravação de voz depois de se examinar a foto do cockpit fragmentado. Como perito em aviação examinei atentamente as imagens dos destroços do avião malaio que estão a circular na Internet .

Primeiro, fiquei admirado de quão poucas fotos dos destroços podem ser encontradas com o Google. São todasde baixa resolução, excepto uma: A do fragmento do cockpit abaixo da janela do lado dos pilotos. Contudo, esta imagem é chocante. Em Washington podem-se agora ouvir pontos de vista que falam de um "erro / acidente potencialmente trágico" em relação ao MH 017. Dada esta imagem particular do cockpit isso não me surpreende de todo.

Buracos de entrada e saída de projécteis na área do cockpit 

.Recomendo clicar sobre a pequena foto à direita. Pode descarregá-la como ficheiro PDF, com boa resolução. Isto é necessário porque permitirá entender o que estou aqui a descrever. Os factos falam claro e alto e estão para além do âmbito da especulação: O cockpit mostra traços de disparos(shelling) ! Podem-se ver os buracos de entrada e saída. O bordo de uma parte dos buracos está inclinado para dentro. Estes são buracos mais pequenos, redondos e limpos, mostrando os pontos de entrada – a maior parte provavelmente de um projéctil com calibre de 30 milímetros.O bordo dos outros, os buracos de saída maiores e ligeiramente desgastados(frayed) mostram fragmentos de metal indicando projécteis produzidos pelo mesmo calibre. Além disso, é evidente que estes buracos de saída da camada exterior da estrutura reforçada de alumínio duplo estão retalhados ou inclinados – para fora! Além disso, podem ser vistos cortes menores, todos inclinados para fora, os quais indicam que estilhaços (shrapnel) saíram com força através da face externa (outer skin) a partir do interior do cockpit. Os rebites abertos também estão inclinados para fora.

Verificando as imagens disponíveis há uma coisa que se destaca: Todos os destroços das secções por trás do cockpit estão em grande medida intactos, excepto pelo facto de que restaram apenas fragmentos do avião. Só a parte do cockpit mostra estas marcas peculiares de destruição. Isto dá ao examinador uma pista importante. Este avião não foi atingido por um míssil na sua parte central. A destruição é limitada à área do cockpit. Agora é preciso considerar que esta parte é construída de material especialmente reforçado. Isto é assim porque o nariz de qualquer avião tem de resistir ao impacto de um grande pássaro a altas velocidades. Pode-se ver na foto que nesta área estavam instaladas ligas de alumínio significativamente mais fortes do que no restante da camada externa da fuselagem. Pode-se recordar o crash da Pan Am sobre Lockerbie. Houve um grande segmento do cockpit que, devido à sua arquitectura especial, sobreviveu ao crash numa peça inteira. No caso do voo MH 017 torna-se absolutamente claro que também houve uma explosão no interior do avião.

Destruição de tanque por um mix de munições 

.Então o que poderia ter acontecido? A Rússia publicou recentemente registos de radar que confirmam [a presença de] pelo menos um SU 25 ucraniano em estreita proximidade (close proximity) do MH 017. Isto corresponde à declaração do agora ausente controlador espanhol "Carlos" que viu dois aviões caças ucranianos na vizinhança imediata do MH 017. Se agora considerarmos o armamento de um típico SU-25 aprenderemos isto: Ele está equipado com uma arma de cano duplo de 30 mm, tipo GSh-302 / AO-17A, equipada com: um pente de 250 tiros de projécteis incendiários(incendiary shells) anti-tanque e projécteis de estilhaçamento explosivo(splinter-explosive) (dum-dum), dispostos em ordem alternada. Evidentemente dispararam sobre o cockpit do MH 017 de ambos os lados: os buracos de entrada e de saída são encontrados no mesmo de segmento de cockpit! 

Agora considere o que acontece quando uma série de projécteis incendiários anti-tanque e projecteis de estilhaçamento explosivo atingem o cockpit. Afinal de contas eles são concebidos para destruir um tanque moderno. Os projécteis incendiários anti-tanque atravessaram parcialmente o cockpit e saíram do outro lado numa forma ligeiramente deformada. (Peritos forenses em aviação possivelmente poderiam encontrá-los no solo presumivelmente controlado pelos militares ucranianos do regime de Kiev – o tradutor). Afinal de contas, o seu impacto é calculado para penetrar a blindagem sólida de um tanque. Além disso, os projécteis de estilhaçamento explosivo, devido aos seus numerosos impactos, também deverão provocar explosões maciças no interior do cockpit, uma vez que são concebidos para assim fazer. Dada a rápida sequência de disparo do canhão GSh-302, isto provocará uma rápida sucessão de explosões dentro da área do cockpit num curto espaço de tempo. Recorde: cada um deles é suficiente para destruir um tanque.

Que "erro" foi realmente cometido – e por quem? 

.Porque o interior de um avião comercial é uma câmara pressurizada selada hermeticamente, as explosões, numa fracção de segundo, aumentarão a pressão no interior da cabine para níveis extremos ou ao ponto de ruptura. Um avião não está equipado para isto, ele explodirá como um balão. Isto explica um cenário coerente. Os fragmentos em grande medida intactos das secções traseiras romperam-se no meio do ar nos pontos mais fracos da construção, mais provavelmente sob extrema pressão interna do ar.As imagens do campo de resíduos espalhado amplamente e o segmento brutalmente danificado do cockpit ajustam-se como uma mão na luva. Além disso, um segmento da asa mostra traços de um tiro rasante, o qual em extensão directa leva ao cockpit. Curiosamente, descobri que tanto a foto de alta resolução do fragmento de bala que perfurou o cockpit como o segmento da asa com esfoladura nesse ínterim desapareceram das imagens Google. Não se pode virtualmente encontrar mais fotos dos destroços, excepto as bem conhecidas ruínas fumegantes.

Se ouvir as vozes de Washington que agora falam de um "erro / acidente potencialmente trágico", tudo o que resta é a pergunta de o que pode ter sido a natureza deste "erro" aqui perpetrado. Não me inclino a divagar muito no âmbito da especulação, mas gostaria de convidar outras pessoas a considerarem o seguinte: O MH 017 parecia semelhante no seu desenho tricolor àquele do avião do Presidente russo. O avião com o Presidente Putin a bordo estava ao mesmo tempo "próximo" do Malaysia MH 017. Em círculos da aviação "próximo" seria considerado algo entre 150 a 200 milhas [241 a 328 km}. Também, neste contexto, podemos considerar o depoimento da Sra. Tymoshenko, a qual queria abater o Presidente Putin com uma Kalashnikov.

Mas isto é pura especulação. Contudo, definitivamente, os disparos sobre o cockpit do Air Malaysia MH 017 não são especulação 
30/Julho/2014
[*] Comandante da aviação com 30 anos de experiência. Trabalhou com o B727, DC8, B747, B737, DC10 e A340. Desde 2004 tem trabalhado como escritor e jornalista. Resumo biográfico .

O original em alemão encontra-se em www.anderweltonline.com/... e a versão em inglês emwww.globalresearch.ca/... 


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

DOCUMENTO DOS NOVE

Sobre o DOCUMENTO DOS NOVE..de há 39 anos

Carta Aberta a Vasco Gonçalves [de Duarte Pinto Soares,Coronel de Engº] em Agosto de 1975

Tenho que necessariamente deixar duas palavras ao general Vasco Gonçalves. Conheci-o como comandante do Agrupamento de Engenharia em Angola. Era todo um território vastíssimo e 3000 homens para comandar. E tudo aquilo era guerra. E, na guerra, quando se descobre num comandante honestidade, lealdade, fervor patriótico e elevada cultura, não se deve ficar indiferente. Já depois, em Lisboa, procurado, aderiu à preparação do 25 de Abril. Alguns dos meus nove camaradas poderão na minha vez referir a importância de um coronel que se arrisca a encorajar com a sua presença e ensinamentos tais capitães de então. Foi para o Governo após Palma Carlos e nunca nos” largou”. Diga-se que ele mesmo incentivou os “encontros de crítica e autocrítica”. Nunca quis ser o “Senhor Revolução”. Curiosamente, destacou Melo Antunes para a sua ligação com a Comissão Coordenadora. Sujeitou-se, não poucas vezes, às decisões da então CCP. Os seus erros terão de estar ligados aos nossos. E, ainda insisto, por exemplo, em salientar que alguns dos nove camaradas, senão todos, melhor do que eu poderão dizer, quem papel histórico mais importante desempenhou perante Spínola? Ou talvez “este” nos diga, se entretanto aí voltar… Meu general, sabe bem quanto, por vezes, estive em desacordo consigo, mas nunca o direi na hora da verdade. Se o Povo (este será por certo) ou algum Pinochet o sentar no banco dos réus, poderá olhar para o lado, pois terá o conforto de lá me encontrar. Dividirei consigo e com quem mais estiver disposto (haverá de certeza), os erros que o documento dos nove cruelmente lhe aponta.
a)Nuno Pinto Soares

(excertos do depoimento no livro VASCO,NOME DE ABRIL editado,pela ACR, no dia 18 de Julho data do 40º aniversário da posse de VG como Primeiro-ministro em 1974)
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quinta-feira, 7 de agosto de 2014

BES*****DESCASCANDO A CEBOLA

DESCASCANDO A CEBOLA - POR SANDRO MENDONÇA (*)

Há um livro de um grande escritor onde vamos buscar o título deste apontamento. Trata-se de uma  polémica obra de Günter Grass, a sua autobiografia, sobre a sua integração nas forças das SS quando a Alemanha já desesperava em combates derradeiros e uma adolescência por entre os escombros do pós-guerra. Este autor questiona um comportamento que agora lhe é estranho e pensa na melhor estratégia de pesquisa: «A cebola tem muitas camadas. Mal é descascada, renova-se. Cortada, provoca lágrimas. Só ao descascá-la fala verdade». A fórmula escolhida para lidar com a maior crise bancária europeia do ano (até à data) tem de ser esclarecida e descascada. Há aqui muitas questões a nível macro, meso e micro que são instrumento de trabalho para audições aos protagonistas e para a agenda de comissões de inquérito.

A SOLUÇÃO É UM HOLOGRAMA

O BES parece ser um desconcertante caso de "morte-súbita". Uma instituição todo-poderosa, multi-secular, pluri-continental e trans-regime que desaparece num fim-de-semana causando alarido na sociedade portuguesa, pânico entre os reguladores, fazendo com que muitos operadores internacionais virassem a atenção em direcção a Portugal.
Uma primeira implicação é que a presença do resgate original se volta a fazer sentir quando o actual governo se preparava para olhar para as eleições do novo ano. O pós-troika foi uma fugaz Primavera. O fenómeno BES foi um dos grandes endividadores de Portugal e isso tem repercussões a nível macro, sobretudo quando são atingidas as contas nacionais e forem renovado/estafado pretexto para mais austeridade e punição da população.
É também uma grande maçada pois o complexo Espírito-Santo simbolizava um certo tipo de modelo económico que o actual governo venera: o deslumbramento da finança como a actividade económica por excelência, a estética dos bons nomes de família, o culto cowboi dos grandes "CEO", a elegância abstracta dos conceitos ensinados em prestigiadas Madrassas de Negócios. Proverbialmente desatento ao surgimento de crises, o actual primeiro-ministro dizia em plena fase aguda do subprime numa uma longa entrevista ao Correio da Manhã: "Na área financeira acho que nós devemos gradualmente criar condições para que o Estado se retire da área financeira. E por isso defendo a privatização da Caixa Geral de Depósitos." ( Passos Coelho, 2008 )
O modo como a situação está a ser mal (di)gerida mostra que o executivo tem estado de cabeça enfiada na areia e  não queria sequer sair da praia  para enfrentar o problema. Em Junho o líder do governo já se denunciava ao referir que  problemas sistémicos da economia não seriam da responsabilidade nem do governo nem do supervisor  (!). Depois um conselho de ministros sombra (talvez à sombra de um chapéu-de-sol) lá o e-governo encontrou uma maneira de resolver a sua situação: fingir que havia uma solução tecnocrática ao  dar ainda mais poderes  ao atordoado Carlos Costa para ficar com o problema nos braços  sem saber bem o que fazer com ele . Mas parece que esta solução é um holograma:
•    Note-se que com esta situação o Banco de Portugal (BdP) se arroga a capacidade de deliberação sobre fundos à guarda do Estado e obtidos por resgate governativo de má memória: uma situação que, no mínimo, é dúbia na sua legitimidade mas, no máximo,  pode ser mesmo ilegal .
•    Note-se igualmente que com esta abordagem o Estado chega-se à frente mas não se torna accionista, nem sequer obrigacionista ... na melhor das hipóteses torna-se um "para-obrigacionista" pois facilita dinheiros que não são seus (pelos quais tem pago bom dinheiro arrecadado de impostos) para serem colocados num Fundo (a lucro económico zero) que é institucionalmente enquadrado pelo BdP que resolve tornar-se empreendedor de fim-de-semana.
•    Note-se também que é um organismo não eleito (o BdP), e protegido por uma entidade externa que não responde perante ninguém (o Banco Central Europeu), que assume o telecomando de uma empresa privada (uma expropriação sem nacionalização) e impõe uma nova equipa de gestão (sem ter havido uma Assembleia Geral) numa instituição temporária ( que nem é dona do seu próprio nome ).
•    Note-se sobretudo que há limites para se sacudir a água do capote quando  a tutela do Fundo de Resolução está situada bem no centro nevrálgico do actual governo .
•    Note-se finalmente. para que não haja qualquer dúvida,  este é mais um mau resultado que advém de toda a condução da co-intervenção Troika/PSD-CDS a qual sistematicamente privilegiou e poupou a finança  e atrofiou o papel do Estado no seu papel soberano perante os "mercados" e social perante as populações.

ALGUÉM NÃO REGULA BEM

Há mais um nível que é preciso escavar. A ministra destas Finanças dizia: " Não estamos a preparar nada, nem temos qualquer indicação que isso possa ser necessário ." (17 Julho) O Presidente desta República afirmou: " De acordo com a informação que tenho da próprio Banco de Portugal, considero que a sua actuação tem sido muito, muito correcta ". (21 Julho) Contudo, mesmo que haja por aí  alguma gente bizarramente conivente , avoluma-se a evidência que as autoridades estão mesmo a " mentir aos Portugueses ".
Já é demasiado claro que a regulação caiu numa cilada e que o Presidente e o Governo vão atirar para esta as culpas. No entanto, e mantendo a distância face a essas previsíveis manobras políticas, há muitos e perturbadores desafios com as quais o colectivo de actores sectoriais estão confontados. Não basta actuar quando é tarde demais, isto é, quando os efeitos de práticas a la Alves dos Reis ou a la Dona Branca se tornam massivos e catastróficos.
A função regulação está fundamentalmente ameaçada e é preciso resgatá-la. Mas, isso não será feito sem antes se colocarem perguntas severas em cima da mesa. Por exemplo:
1.    Como afinal justifica o BdP a sua existência num país sem política monetária própria e com um processo de união bancária em curso? E é idóneo um conselho de administração com elementos ligados a entidades problemáticas, sob escrutínio no passado ou agora, como o BCP de Jardim Gonçalves ou o universo BES?
2.    Como é que a CMVM autoriza operações de capitalização por parte de entidades sobre as quais já existem denúncias graves? E quando as campanhas de aumentos de capital são inclusivamente facilitadas por  operadores do mesmo grupo, os quais têm estado associados a variados casos de abuso de mercado como o BESI ?
3.    Mais, a questão não é apenas dos reguladores em si próprios mas também da articulação entre reguladores. Se o fenómeno financeiro é mais vasto que a banca então porque não se articulam o BdP, a CMVM e o Instituto de Seguros de Portugal? Já agora, será que inimizades pessoais existentes entre os reguladores obstaculizaram materialmente a cooperação inter-institucional? E, então, já se constituiu um grupo de trabalho mista de autoridades Portuguesas e Angolanas para investigar o caso BESA?
4.    Mais ainda, a Associação Portuguesa de Bancos (tipicamente presidida por destacados orquestradores da mesma "cor política", desde João Salgueiro a Faria de Oliveira) não aparenta servir para a auto-regulação sectorial. Nem tão pouco para a auto-justificação serve sequer, pois tão certa está de não ser questionada pois  rodeada que está sempre de amigos . Parece, isso sim, talhada para massajar a definição do quadro regulamentar, apoiar a elaboração de políticas económicas enviesadas e contribuir para tudo menos reduzir os níveis de risco da actividade bancária (leia-se  o que diz a própria APB ).
5.    Mas há mais ainda por exigir, pois as perguntas duras à regulação não podem parar por aqui. Comentadores de conveniência como Marques Mendes e Marcelo Rebelo de Sousa estão a ter expressivo acesso a " informação privilegiada ".  É por demais evidente que certos agentes da comunicação social e certas práticas instaladas na cobertura nos assuntos económicos estão a funcionar como "correias de transmissão" do poder político (encore: sempre a mesma "cor política") e do poder económico (encorre un fois: as mesmíssimas "elites"). Nesse último anel de supervisão e vigilância que é a esfera pública está a ser injectado ar viciado. Isto pode configurar uma autêntica manipulação de massas (cidadãos tanto no seu papel de contribuintes, como de clientes, como de pequenos acionistas) que é muitíssimo grave e não se percebe como persiste/insiste/satura/inunda. A  lei Lei nº 53/2005 , Art. 8/c, diz que é um dever "Zelar pela independência das entidades que prosseguem actividades de comunicação social perante os poderes político e económico", ou será que a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) ainda não reparou?

A MÃO VISÍVEL

A linguagem usada pelo governo revela muito. Vejamos, como exemplo, o que diz esse ministro do situacionismo económico, Pires de Lima. Sobre a causa das coisas comenta: " Houve acontecimentos inexplicáveis para qualquer investidor ". Ora, há que não deixar passar este sistémico encolher de ombros sempre que a iniciativa empresarial mete os pés pelas mãos.
Em primeiro lugar, o que ao longo deste tempo se passava no BES não era uma situação incomum. Pelo contrário, o que vimos agora tinha sido pré-anunciado num acontecimento que, à posteriori, se revela premonitório. Em Janeiro de 2010 Ricardo Salgado chefiou um grupo de capitães empresariais (atentamos bem quais: PT, EDP, Jerónimo Martins,...) que chumbou aquilo que se apresentava como uma reforma dos códigos de conduta para uma boa gestão. Depois percebeu-se o porquê deste boicote: dava direitos aos pequenos accionistas e exigia transparência das remunerações à alta direcção. Por isso se justifica a  Comissão de Trabalhadores da PT exigir a devolução de bónus  por parte de Administradores que desviam quase 900 milhões da empresa (aliás, como é este cambalacho mirabolante ainda estar impune?!). Por isso não se compreende a actual administração do Novo Banco quando não justifica a inclusão numa equipa de seis elementos nada menos que três elementos de topo vindos do BES (aliás, como não foi a Polícia Judiciária mandatada para apreender logo no início desta crise todos os computadores e dispositivos de comunicação das cúpulas deste pouco católico conglomerado pelo menos até ao nível de director-coordenador?!).
Em segundo lugar, basta colher algumas palavras de quadros e funcionários do banco para desvendar ainda mais umas problemáticas camadas. No banco todos estavam mais ou menos ligados à "rádio-alcatifa" (uma das expressões usadas internamente) e por isso lá se iam comentando à boca miúda algumas operações. Saber-se-ia, consta, de "algumas chatices" pois na finança, sabemo-lo, "shit happens" (sic). Por um lado, os trabalhadores (isto é, os "colaboradores", e é preciso distingui-los dos "colaboracionistas", e é também preciso distinguir entre bancários e banqueiros) do banco manifestam uma sensação de "choque" face à escala e à abrangência da "informalidade". Note-se: a surpresa não é a existência de tais práticas, trata-se de espanto perante o volume; isso mostra que o que correu mal foi muito mais que uma mera excepção, tratou-se de algo muito profundo, gigantesco e sistémico que deveria até ter chamado a atenção de pares que agora se dizem  traídos  e  atónitos . Muitas operações decorriam em termos excessivamente "fáceis" sempre que as partes interessadas teriam nomes de família. Por outro lado, o "ambiente de decisão" era muito constrangido. Gestores que saberiam demais seriam colocados em "prateleiras douradas" porque assim não seriam fontes de agitação e gestores que queriam saber demais perceberiam que após a sua dissidência dificilmente poderiam encontrar emprego noutras instituições na indústriam em Portugal, pois o BES era o "primus inter-pares" onde ponificava o decano dos banqueiros. Ou seja, reconhecia-se o longo braço dos " Irmãos Dalton " (esta expressão entre aspas, refira-se de novo, vem de dentro da organização).
Ou seja, é preciso chegar ao fundo da questão apesar da incúria, da incompetência, da conivência, da cumplicidade e, sobretudo, da intervenção directa de gente muito poderosa que intimida, destrói e corrompe. Há, particularmente, perguntas de nível micro que têm de ser feitas e respondidas:
- Onde aprendem, e com quem aprendem, os gestores de topo a comportarem-se assim?
- Porque foram, e continuam a ser, obstaculizados os movimentos de promoção de transparência nas estruturas de governação societária?
- Porque razão não surgiram denunciadores internos ("whistleblowers") nestes e noutros casos?
Perante a malfeitoria económica do século (até mais ver) é preciso descascar a cebola. Rapidamente, com destreza, sem cortar a direito, mas decididamente. 

(*) SANDRO MENDONÇA é professor de Economia no ISCTE Business School. Este texto está publicado no EXPRESSO On-line de 7 de Agosto de 2014

Cebola a ser descascadaCebola a ser descascadaSandro Mendonça (ISCTE)Sandro Mendonça (ISCTE)