O Estado transformou-se no pior inimigo
do cidadão
(por Pasimar, 11FEV2014)
Os objectivos teleológicos[1]
de qualquer Estado são o Bem-estar
e a Segurança dos seus cidadãos. E
é isto que diferencia cada Estado perante os demais, aquém e além-fronteiras.
De facto, não faria sentido a Espanha, por exemplo, zelar pelo bem-estar e segurança
dos franceses, descurando a dos espanhóis, e vice-versa; ou Portugal dar primazia
às pretensões teleológicas do Estado Alemão. Isto é, toda e qualquer actividade
promovida por um Estado deve ter na sua génese tais objectivos teleológicos,
para com os seus cidadãos. Se assim for, o Estado será sempre coerente e consequente
em todas as acções que se propõe concretizar.
Como contrapartida,
desse bem-estar e segurança que o Estado visa assegurar, os cidadãos contribuem
com impostos, taxas, participação cívica aos mais variados níveis, assumindo
assim as suas responsabilidades. Esta relação biunívoca constitui-se num “contrato”, logo que alguém nasce e é
registado como cidadão. Perpetua-se vitaliciamente ao longo dos tempos, durante
sucessivas gerações, enformando a cultura dum povo, dum país, duma nação.
Cultura essa, que se traduz fundamentalmente na forma como um povo se relaciona
entre si e além-fronteiras. Esse contrato está “selado” com costumes, regras, normas e leis que orientam e
determinam comportamentos e atitudes de ambos - Estado e Cidadão - conferindo-lhe
um sentido de Justiça. Assim, esta
relação de mútuo respeito permite a
sobrevivência de ambos, com autonomia e independência identitárias. No
entanto, a quebra unilateral de quaisquer desses “compromissos” implica o
direito de acção contra a parte infractora. Isto é, no caso de o Cidadão
prevaricar o Estado este pode e deve atentar contra o cidadão; também, o contrário
constitui direito do Cidadão. Afirmemos, então, que em caso de quebra de regras,
a relação/contrato pode desmoronar-se. Mas, será possível que um Cidadão deixe
de ser Cidadão dum Estado e que um Estado deixe de ser Estado dum Cidadão?
Mesmo que tal possa ocorrer, nunca poderá ser norma, sob pena do Estado se extinguir. Logo, não é viável.
Entretanto, apesar
dessa relação biunívoca ser mutuamente aceite, existe enorme
desproporcionalidade de forças: o Estado pode impor o que quer ao cidadão,
enquanto este, individualmente, quase nada consegue impor ao Estado. Claro, é
esperado que o Estado seja honesto e benfeitor nas decisões que toma, até
porque a razão ser de qualquer Estado é, como se disse no início, o Bem-estar e Segurança de TODOS os seus cidadãos. Infelizmente, parece
que o Estado se esquece dessas obrigações com demasiada frequência.
No entanto, não nos
esqueçamos, o Estado somente existe porque os cidadãos O constituem. Até
recentemente, eram os cidadãos que faziam um Estado e não o contrário. Agora,
já não é bem assim. Por exemplo, há ditames da União Europeia que são
contrários à vontade dos cidadãos portugueses, como a perca de soberania da
pesca nas nossa águas costeiras.
As razões que determinaram a situação actual de Portugal são
múltiplas, internas e externas, mas a génese encontra-se na cultura que
desenvolvemos desde há séculos. Isto é, tem sido a forma como nos relacionamos
interna e externamente com os inúmeros factores
de produção[2].
Sim, inúmeros, pois até o futebol, as telenovelas, os talk shows e demais programas alienantes,
são também factores de produção: produzem mentalidades, sentidos de voto,
comportamentos e atitudes! Mas, de onde vem tudo isto? Dos cidadãos
portugueses? NIM, nem sim nem não: vem
dos portugueses, porque acatam estúpida e inconscientemente o que lhes
impingem; e não é dos portugueses…, porque vem de fora, de todo o lado, de um cidadão
universal que não tem fronteiras, apátrida – o dinheiro. Este, perverteu tudo e todos, particularmente os que
rapidamente cedem à tentação e destroem tudo o que civicamente nos edifica.
Os políticos também são cidadãos. Se os que
governam são bons ou maus…, são postos no poleiro
por concidadãos seus? Parece que não será bem assim: nas últimas décadas o
poder do dinheiro determinou simpatias e sentidos de voto no “centrão”[3],
fazendo do humilde e simples cidadão eleitor um acéfalo “pau-mandado”. E, assim, a perversão ocorreu, tudo
descambou numa demagogia travestida de
democracia, em que os valores éticos e morais foram secundarizados, dando
primazia à hipocrisia, ao cinismo, à mentira, ao devaneio, à indolência, à
irresponsabilidade, à corrupção, em suma…, à INJUSTIÇA. Hoje, em vez de
estarmos a comemorar a concretização dos valores preconizados pelo 25ABRIL1974,
estamos a viver como pedintes na miséria, desemprego, dependência e escravidão.
A ilustração abaixo traduz magistralmente a situação em que vivemos:
Somos um povo que, para não se sentir atrasado
socioculturalmente face ao estrangeiro, facilmente vai atrás da moda demagógica.
Em verdade, o despudor e a corrupção atingiram a alma desta Nação, ferindo-A de
morte. E, como “cidadãos mortos”, somos “um
povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro
de carga…, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma
rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as
orelhas é capaz de sacudir as moscas”[4],
mas que continua a votar no “centrão” que nos engana e rouba há
mais de trinta anos.
Agravando tudo isto, o
Estado aferrolha o cidadão com confiscos aos parcos rendimentos do seu
trabalho. O cidadão, não podendo fugir, nomeadamente o trabalhador por conta de
outrem e os pensionistas e reformados, torna-se ainda mais burro de carga, mais incapaz de sacudir tamanhos vampiros e mais cego na mesa de voto ou no
sofá. Assim, apesar de apadrinhar o capital, o Estado acabou por o
destronar nas malfeitorias, pois constituiu-se no principal agente malfeitor,
no pior inimigo do seu cidadão, escravizando-o brutalmente.
[1] De teleologia, que se refere ao estudo das finalidades do
universo; neste caso, finalidades de qualquer Estado.
[2] Produção, aqui entendida no sentido lato,
aplicando-se a todos os níveis: científico, económico, industrial, comercial,
etc.
[3] “Centrão”,
alcunha dada aos partidos portugueses no arco da governação nas últimas décadas
(PSD, CDS e PS).
[4] Alusão a Guerra Junqueiro, in
'Pátria (1896)' - Um Povo Resignado e Dois Partidos sem Ideias.
Camarada Paulo Martins. Bom texto. Gostei!
ResponderEliminargostei do texto do filho da minha escola Paulo Martins , parabéns .
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