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“O programa do MFA,
há quarenta anos, impôs outros três “D”: Democratizar, Desenvolver e Descolonizar.”
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Há três anos, quando
este governo inicia o seu reinado a visão dominante sobre a crise portuguesa
seguia de perto a narrativa da crise grega. O crescimento da despesa pública
durante a última década era considerado o responsável pela perda de
competitividade da economia, endividamento excessivo e baixo crescimento do
País.
Este tenebroso governo português cedo manifestou a intenção de «ir além
da troika»: medidas mais duras para um ajustamento em menos tempo. Mas
este ponto de vista chocava com os factos. A despesa pública não acelerou na
última década. Entre 2001 e 2011, a taxa de crescimento da despesa pública foi
metade da verificada na década anterior e foi até a mais baixa desde a segunda
guerra mundial.
Depois de 2000, o que aconteceu foi uma baixa do crescimento do PIB nos
países ocidentais, que devido às nossas condições foi mais marcada entre nós. O
abrandamento resultou de causas externas, como a emergência da China, o aumento
do preço das matérias-primas e a crise financeira, e não de causas internas.
A diminuição do crescimento
foi a causa dos problemas de contas públicas e não o contrário.
O atual Governo ignorou este facto e alinhou a sua estratégia com a visão de que a única questão a resolver era o problema de contas públicas. Assim pensaram.
O atual Governo ignorou este facto e alinhou a sua estratégia com a visão de que a única questão a resolver era o problema de contas públicas. Assim pensaram.
Diminuindo a despesa pública corrije-se
o défice público e garantindo a redução da despesa interna e da procura de
trabalho, pelo aumento do desemprego, conduz-se à diminuição dos salários. A
redução da procura interna substituiria a desvalorização, contribuindo para
reduzir as importações e para aumentar a competitividade, pela redução dos
salários, promovendo uma aceleração das exportações.
A tese do empobrecimento
A austeridade resolverá todos os desequilíbrios e promoverá a retoma do
crescimento.
Só empobrecendo e reduzindo salários se voltará ao crescimento. A austeridade resolverá todos os desequilíbrios e promoverá a retoma .
Só empobrecendo e reduzindo salários se voltará ao crescimento. A austeridade resolverá todos os desequilíbrios e promoverá a retoma .
Nesta estratégia, adoptada pela troika e pelo Governo, a única coisa que
podia falhar era o mercado de trabalho. Daí a prioridade dada à reforma
da Lei Laboral e à liberalização dos despedimentos para evitar atrasos na
descida dos salários e a redução dos custos unitários .A realidade acompanhou a
teoria na redução da procura interna, gerou aumento do desemprego e descida dos
salários e custos unitários de trabalho .
O ajustamento no mercado
laboral foi forte, mesmo antes da nova lei laboral. Os custos unitários
desceram fortemente ao longo de 2012 e2013.
O que falhou? A redução dos custos unitários não foi acompanhada
pelo aumento da taxa de crescimento das exportações. Pelo contrário, a
redução dos custos unitários portugueses face aos dos países da UE foi
acompanhada por um abrandamento do crescimento das exportações comunitárias e
extra comunitárias. Isto é, (de 13,5%, em 2010 e 2011, para 3,9%,
em 2012 e 2013). Parte deste abrandamento podia ser atribuída à crise europeia,
No entanto, o crescimento das exportações extra-comunitárias caiu de 19%
ao ano (entre 2010 e 2012) para 7%, nos primeiros nove meses de 2013.
Isto dificilmente pode ser explicado pela crise europeia.
Apesar de mais fraco, o crescimento das exportações em 2012 e 2013 foi
sustentado por sectores de capital intensivo, em que os custos laborais não são
significativos, como os produtos refinados de petróleo ou o papel, expansão
que resulta de grandes investimentos promovidos anteriormente.
A realidade mostra que a teoria do empobrecimento não resultou. Baseada sobretudo
na queda da procura interna e das
importações, mais do que na expansão das exportações, a correcção do
défice externo aconteceu com pouco significado. Aconteceu em todos os
outros países na mesma situação, como na Grécia e em Espanha, entre 2007 e 2013
onde esta redução do défice externo até foi maior do que em Portugal.
O resultado mede-se em queda
do PIB e aumento do desemprego.
O
nível de recessão imposto à economia acabou por minar os esforços de
consolidação orçamental. A redução do défice em 2012 e 2013 juntos foi metade
da verificada em 2011.
A economia caiu muito e o défice pouco.
O empobrecimento da base fiscal assim o impôs.
Apesar dos sacrifícios exigidos, o crescimento do rácio de endividamento não
abrandou, puxado tanto pelo aumento da dívida como pela baixa do PIB.
A evolução dos últimos dois anos e meio salienta que o crescimento das
exportações, o aumento da competitividade e o crescimento do PIB dependem hoje
de fatores muito mais complexos do que apenas os custos salariais. O
investimento interno está a cair há cinco anos e a baixa de salários não fez o investimento
afluir a Portugal, apesar dos apoios do Estado e das isenções fiscais dadas aos
grandes projetos. Logo se concluirá que o simplismo e crueldade da tese da
austeridade e do empobrecimento não serve e sem investimento e modernização do
aparelho produtivo as exportações não podem crescer.
Hipotecar o futuro.“O País estava a gastar acima do que produzia”
é a simplória linha justificativa da troika e do actual Governo. O País estava
a gastar acima do que produzia.”Produzir menos” é algo que um país que
está a gastar acima do que produz não pode fazer.
Portugal está hoje a
produzir ao nível do que produzia no início do século.
O ajustamento seguido está a causar uma perda de capacidade produtiva. O
País não está apenas a produzir menos num contexto de recessão. Nestes dois
anos Portugal viu descer o seu PIB potencial. Portugal perdeu mão de obra,
perdeu capital e perdeu confiança nas instituições. Os modelos de
crescimento consideram sempre o stock de capital e de mão de obra como a base
em que assenta o crescimento, a que se juntam as qualificações, tecnologia e
qualidade das instituições como factores potenciadores
A base produtiva encolheu nos últimos dois anos e meio. Encolheu pela
saída de mão de obra, como não se via desde antes de 1974. Encolheu porque,
pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, o país registou uma redução
do seu stock líquido de capital.
Nestes últimos dois anos o stock de capital de Portugal caiu mais de dez mil milhões de euros e deverá continuar a cair em 2014 e 2015. Nas anteriores crises Portugal teve reduções temporárias do nível de investimento, mas nunca foram a um nível que implicasse uma redução do stock de capital da economia.
Nestes últimos dois anos o stock de capital de Portugal caiu mais de dez mil milhões de euros e deverá continuar a cair em 2014 e 2015. Nas anteriores crises Portugal teve reduções temporárias do nível de investimento, mas nunca foram a um nível que implicasse uma redução do stock de capital da economia.
Portugal tem pouco capital, é verdade. O stock de capital por trabalhador
de Portugal é cerca de metade do da UE15 e isso reflecte-se na produtividade do
País. Nos últimos quarenta anos aproximámo-nos da média europeia, subindo de
32%, em 1974, para 40%, em 1990, e 52% em 2010. Hoje, com o investimento a
56% do nível de 2001, estamos a andar para trás e a reduzir fortemente a
capacidade produtiva da economia.
Pela primeira vez, Portugal
teve uma década (2003-13) em que investiu menos do que na década anterior.
E isto é verdade tanto para o investimento público como privado. Ambos
caíram quase 40% desde 2008.
Para além de capital, Portugal também está a perder força de
trabalho. Mais de 5% da força de trabalho saiu do País. Num país com
baixíssimas qualificações, o fluxo brutal de emigração de jovens com elevadas
qualificações para o estrangeiro tem de ser olhado com enorme preocupação. A
esta perda junta-se a diminuição das entradas para o ensino superior. É uma
redução de capital humano brutal.
A retoma vai ser feita sem estes recursos, a partir de um patamar mais
baixo e com pouco carburante.
É mais difícil medir o efeito do desinvestimento na ciência e inovação, ou a perda de confiança nas instituições nacionais. Mas estes estão a acontecer e vão cobrar um preço muito caro às gerações futuras. É preciso alterar as prioridades e perceber que só uma retoma sustentada pode permitir consolidar as contas públicas e estabilizar o endividamento. E que quanto mais tarde esta começar, mais baixo será o nível que o País terá como base para o crescimento futuro.
É mais difícil medir o efeito do desinvestimento na ciência e inovação, ou a perda de confiança nas instituições nacionais. Mas estes estão a acontecer e vão cobrar um preço muito caro às gerações futuras. É preciso alterar as prioridades e perceber que só uma retoma sustentada pode permitir consolidar as contas públicas e estabilizar o endividamento. E que quanto mais tarde esta começar, mais baixo será o nível que o País terá como base para o crescimento futuro.
O ajustamento seguido em Portugal está a ser desastroso. Não resolveu o
problema do défice nem da dívida pública. E não conseguiu relançar o
crescimento com a sua estratégia simplista de empobrecimento, pensada para um
país que Portugal felizmente já não é nem pode ser. Afundar a economia não pode
ser parte da solução, pois só agrava o problema.
Os credores sabem disso mas o
seu lucro é a usura desmedia dos juros que cobram com ajustamentos, com planos
cautelares ou com o que quer que lhe chamem. A verdadeira crise é a alta
Finança comandar a Politica
Manuel Duran Clemente/Coronel SAM /ref
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