Capitão de Mar-e-Guerra Miguel Judas
( Um País em Estado de Coma )
Sim, o País, isto é, a Nação e o Estado (a expressão jurídica da primeira) estão em estado de coma.
Como “célula” do organismo nacional, desempenhei, ao longo da vida, por iniciativa própria ou por incumbência colectiva, diversos papeis activos no metabolismo global da Nação e do Estado, participando em diversos sistemas vitais do “organismo”, tendo mesmo, por momentos, participado no seu sistema integrador e decisor.
Hoje, como muitos da minha geração – que em tempos ancestrais da humanidade continuavam a ser socialmente úteis como memória estratégica e transmissores de cultura – estamos remetidos, pela “modernidade”, à função de apêndices capilares aguardando o próximo “hair cut”.
Contudo, ainda conservamos as nossas memórias individuais, as quais, ao menos, ainda vão justificando algumas almoçaradas...
Dizem que com a velhice se reavivam as recordações da infância. Talvez o actual estado comatoso do país me tenha suscitado algumas leituras sobre o seu nascimento, primeiro como “projecto” e, um pouco mais tarde, como realidade.
O “Portugal Medievo” de António Borges Coelho é uma “delícia” e quando acabei de ler sobre o reinado de D. Sancho II, surgiram-me tantas imagens do nosso estado actual que me senti impulsionado a escrever estas linhas.
Sim, Portugal já passou por muitas provações e muitos outros renascimentos. Em todos os casos as “elites” foram traidoras e Portugal renasceu dos seus povos, das comunidades concelhias. Sempre assim foi e também assim será, na próxima.
Por isso – é minha convicção – nada haverá a esperar dos que (primeiros ou sucessores) nos venderam à CEE, dos que, por um prato de lentilhas, deliberadamente, arruinaram os nossos patrimónios nacionais (mesmo que usando como ajudantes alguns palhaços ambiciosos, ignorantes e incompetentes), para os entregarem, bem baratinhos, à oligarquia/plutocracia financeira internacional que os sustenta e a quem servem.
A actual situação de “coma nacional” não irá melhorar nos próximos anos. As sanguessugas da reciclagem do dinheiro já estão com as ventosas apontadas aos (diz-se) 25.000 milhões de euros que virão, por via intravenosa, para manter vivo este corpo nacional que, “ligado à máquina”, já não mexe e do qual só se ouvem, no intervalo dos jogos de futebol e do “preço certo”, alguns roncos respiratórios (breves ilusões) que fazem notícia.
A Alternativa à “dissolução nacional”, à liquidação do “projecto afonsino”, não passa pelo actual sistema político nem por projectos “ideológicos”; ela passa por Muito Trabalho (fazer o que tivermos de fazer, sem parasitismos), por Patriotismo (assegurar a viabilidade e autonomia da nossa comunidade nacional com base na responsabilidade e na solidariedade), por Democracia (representativa com capacidade revocatória de mandatos, participativa e inclusiva, onde todos os portugueses caibam) e por Honestidade (sem mentiras, manipulações e corrupções).
Como ninguém vai “tratar de nós” indefinidamente, sem que tenhamos qualquer “utilidade/serventia”, haverá um dia em que as “reservas de Vida” que ainda contemos terão de ser accionadas.
Quanto às formas, haverá muitas possibilidades. A nossa história de 900 anos oferece-nos muitas modalidades inspiradoras (à “Afonso III”, à “1383-85”, à “alterações de Évora/1640”, etc.). O Povo é muito criativo.
Até pode ser que, derretidos os tais 25.000 milhões, as actuais “elites” resolvam emigrar e deixar-nos em paz. Nem teríamos de perder tempo com o seu julgamento!