No momento especialmente crítico em que Portugal e os Portugueses se encontram, consequência directa dos desvarios que têm vindo a ser perpetrados pelos diversos governos, refira-se, democraticamente eleitos, com especial incidência desde a nossa adesão à então Comunidade Económica Europeia (CEE), em 1986, o justo desespero instalado na esmagadora maioria dos Portugueses tem vindo a fazer crescer, quase dogmaticamente, a teoria, que apelido de “vergonhosa” do “são todos iguais”. Numa necessariamente breve e “superficial” análise a esta “vergonhosa”, acrescentaria, “muito perigosa” teoria o que se me oferece dizer é, utilizando uma metodologia de “catalogação” das diversas “tendências” que, apesar de diversas desembocam na mesma lamentável conclusão, o seguinte :
O Grupo dos Ignorantes : Infelizmente o reconheço que em Portugal uma parte significativa dos Portugueses, quer por razões culturais, históricas, sociológicas, de insuficiência de “educação” e de “tradição” é extremamente mal-informada por natureza e, infelizmente o afirmo, cada vez mais por opção. A esta imensa mole humana é, adicionalmente, servida, contribuindo decisiva e propositadamente para este estado de coisas, pela generalidade dos Órgãos de Comunicação Social (OCS), quase a totalidade dos OCS, uma dose pornograficamente desmedida, por elevada, de (In)cultura, de (Des)informação, de perfeitas banalidades que rigorosamente em nada contribuem para a mais que desejável e cada vez mais urgente alteração deste infeliz paradigma em que estão mergulhados e perfeitamente em estado comatoso estes nossos concidadãos. Diria que é uma das muitas heranças negativas que vêm ainda, em boa parte, do antes 25 de Abril, transmitidas e até ampliadas a uma nova geração por evidente impreparação da anterior. As pessoas estão, na generalidade, num sofrimento absolutamente atroz mas atribuem esse facto à inevitabilidade do que lhes vai sendo incutido, pior, muitas vezes vendido (antes do 25 de Abril praticamente não havia acesso à Televisão, à Internet….). Mas o que constato amarga e de forma absolutamente alarmante é que este estado de ignorância está inclusivamente a levar um número cada vez mais significativo de Portugueses, sobretudo jovens, a nem sequer já questionar seja o que for porque nem sequer têm a mais pálida ideia de que efectivamente poderemos ter um futuro colectivo incomparavelmente melhor. Há efectivamente uma geração que já nasceu e sempre viveu desta forma. O País não tem qualquer solução senão a que está a ser seguida, dizem, e não há quaisquer alternativas. Assim sendo…. Deixe-se andar e vão-se salvando alguns dias de praia, mesmo essa cada vez mais inacessível, e a plena satisfação de pouco menos de 24 horas de telenovelas, “reality shows”, isto, é claro, enquanto se aguarda pelo início da nova época futebolística. Que se lixe…. Estes ou quaisquer outros “São todos iguais”.
O Grupo dos (permanentemente) Iludidos : Trata-se de um, igualmente vasto, conjunto de Portugueses resignados com o actual estado de coisas mas que optou, convictamente, por alinhar, seja por cansaço, desencanto ou mera ilusão de que pode e deve assim proceder para proteger os seus parcos interesses, com a situação vigente. Atente-se na teoria. “Se são inevitavelmente sempre os mesmos a mandar e a fazer prevalecer as suas teorias, consubstanciadas em vontades, então, eu só tenho é de me adaptar e submeter a esses predestinados e tentar daí recolher algumas migalhas”. Este estado de espírito e sobretudo de actuação é, naturalmente, deplorável. As pessoas literalmente vendem-se e colaboram, algumas de forma absolutamente caricata com os poderes dominantes, tentando inclusivamente influenciar os que os rodeiam no sentido de aderir a este “ideal”. Há quem lhes chame os “Chicos Espertos”, “Sabujos”, “Vendidos” e outros apelidos, esses sim, bem conhecidos da generalidade dos Portugueses. Ora em face deste “estatuto” assumido de escravos, prefiro esta nomenclatura, os amos sorriem, aplaudem e incentivam, por todas as vias o engrossar deste “exército”, designadamente dando-lhes as tais migalhas que tanto imploram, a troco de votos mas sobretudo de uma “evangelização”, também esta com forte apoio dos OCS. Ora em face e perante este “grupo” é evidente que a teoria do “São Todos Iguais” é absolutamente um elemento absolutamente central que importa “passar” e “defender” a todo o custo. Vivem na ilusão permanente e nessa ilusão a única realidade palpável é a da “utilidade” de fazer passar a ideia de que não há alternativas, a bem da manutenção vitalícia dos seus amos no poder. Os tais que comandam a seu bel-prazer as suas vidas a troco…. De “praticamente” NADA!
O Grupo dos (inconvenientemente) conscientes, ou como diria um Comandante que tive, das “Madalenas arrependidas” : Trata-se de um grupo curioso e crescentemente significativo. Um grupo normalmente constituído por pessoas, conheço algumas, bem formadas e informadas e que assume agora que têm andado a ser “enganadas”. Isto denota alguma evolução positiva. Ora este reconhecimento até seria de alguma forma louvável não fossem os “ses” que de igual forma os levam a alinhar, ainda que nalguns casos mais timidamente, consequência da tal informação acrescida de que dispõe, na mesma teoria do “São todos iguais”. Se por um lado afirmam agora andarem há anos, alguns há décadas, a ser enganados, o que apesar de tudo, convenhamos, não abona muito a seu favor…. pese embora reconhecer que vale mais tarde que nunca, por outro lado os faz entrar num conflito pessoal dificilmente sanável; Afinal existiam alternativas e “eu” nunca as vi (estranho) ou vi mas forcei-me a nunca optar por elas (muito estranho). Como resultado e em abono de uma autodefesa, nada melhor que afirmar que “fui enganado” mas, para não parecer muito mal perante a Família, Amigos e Conhecidos, vou ter de ir mantendo a aparência de que não o fui assim tão “ingenuamente” porque afinal “São todos iguais”. Constituem desde logo uma apetecível fonte de recrutamento do grupo seguinte; O Grupo das “Baratas Tontas”
O Grupo das “Baratas Tontas” : Faça-se-lhes a justiça. São incomparavelmente mais conscientes, pese embora totalmente inconsequentes, do que os componentes dos grupos anteriores. Para estes a teoria do “São todos iguais” é defensável na base de um misto explosivo de ignorância (q.b.), arrependimento (q.b.) e tomada de consciência de que afinal mesmo as migalhas a distribuir já não lhes chegam porque já há demasiada gente debaixo e à volta da mesa, de joelhos é claro, para as apanhar (as migalhas). Completamente desiludidos, descrentes e consequentemente sem quaisquer forças (e vontade) de alterar seja o que for, entraram no mundo da psicose (Wikipédia : Psicose é um quadro psicopatológico clássico, reconhecido pela psiquiatria, pela psicologia clínica e pela psicanálise como um estado psíquico no qual se verifica certa "perda de contacto com a realidade") e gritam aos quatro ventos que a culpa “é do sistema”. “São todos iguais, a culpa é do sistema”. Daqui derivam inúmeras teorias, todas naturalmente respeitáveis, mas com as quais discordo de forma absoluta. Enumero apenas duas, sendo que propositadamente e nesta altura não vou discorrer sobre nenhuma delas; “O apelo à abstenção” e, curiosamente, a teoria antagónica do “há que mudar radicalmente o sistema”, “sistema” essa fera medonha inventada e mantida pela democracia que, refira-se desde já, não está isenta de defeitos mas, partilho, é, ainda assim, a melhor das soluções.
O Grupo dos instalados no poder : Sobre estes pouco ou quase nada haverá a dizer. São afinal aqueles que convictamente “não servem o país” mas, com a mesma convicção, salvo raríssimas (íssimas, íssimas) excepções “se servem do país”. São os autodenominados/autoconhecidos “iluminados” que põe e dispõe, sempre com cândido e inesquecível “dever patriótico”. Não raras vezes surgem de entre um cuidado recrutamento dos “convictamente iludidos” mas, genericamente, advêm de “castas especialíssimas” comandadas pelos interesses mais obscuros, em grande medida transnacionais. A estes bem os conhecemos e a estes faço até a justiça de compreender a razão pela qual impõe, sem hesitações, a razão da força para impor uma teoria algo diferente. “Ou nós ou o caos”, o que na prática analisando bem se consubstancia na igual negação de alternativas e no fomento da teoria, entre os ignorantes, os iludidos, os arrependidos e as “baratas tontas” de que “São todos iguais”. São a total e absoluta negação convicta da democracia. Não comandam nem governam. Mandam e impõe-se pelas mais negativas razões. Sim. Fomentam o medo, a desconfiança, a ignorância, a ilusão e praticam habilmente a técnica do “dividir para reinar”. São, em suma, execráveis.
Feita esta breve análise, na qual admito muitos se possam rever como integrantes nalguns dos Grupos mas que desejavelmente gostaria que assim não fosse, e porque este texto apenas refere, tão somente e de forma exclusiva a opinião do autor, gostaria apenas de deixar uma nota final e uma sugestão à Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA), para a qual este texto é escrito no âmbito do Projecto de Colaboração de Amigas e Amigos da AOFA.
Como nota final quero aqui deixar bem claro que penso que o posicionamento mais correcto, principalmente nesta fase crítica em que o nosso País se encontra, não é, de forma alguma, quer o do alheamento, quer o da ignorância quer o da persistência no erro (é nobre reconhecermos quando estamos errados e mudar consequentemente de opinião. Só os burros não o fazem). É igualmente nobre estar plenamente convicto das opções tomadas e, se for caso disso, persistir nas respectivas escolhas. É tão verdade que há pessoas sérias e competentes em todos os Partidos Políticos como é verdade que é perigosíssimo pensar-se que os Políticos são todos iguais e, por maioria de razão, que os Partidos Políticos são todos iguais. Porque efectivamente os Partidos Políticos não são todos iguais. Na realidade, e não é preciso sequer estar especialmente informado, bastando estar minimamente atento, Portugal dispõe, felizmente, de um vasto espectro de Partidos Políticos que defendem, nalguns casos de forma evidentemente antagónica, inúmeras alternativas igualmente plausíveis, esclarecedoras e viáveis. Importante mesmo é conhecer as opções que se nos colocam e, de forma consciente, intervir civicamente por todas as formas ao nosso alcance, incluindo o voto. Assim, a “Vergonhosa Teoria do “São todos iguais”” deverá ser tão rapidamente desmontada e abandonada quanto a urgência absolutamente inadiável de darmos um novo rumo a Portugal e ao futuro dos Portugueses. Seja ela qual for, entenda-se, desde que decorrente de uma informação cuidada e de uma opção definitivamente consciente.