Mensagem do Capitão-de-Fragata Serafim Pinheiro
AMANHÄ,
em Lisboa, as Associações Profissionais de Militares (APM's) esperam reunir centenas de oficiais, sargentos e praças para debate sobre o estado das Forcas Armadas.
Não apareceu a possibilidade de me juntar a todos os camaradas de sempre, a muitos companheiros de luta e a alguns Amigos que para mim nunca tiveram costas; mas, mesmo a milhares de quilómetros não quero deixar de reflectir sobre a importância desta honrada iniciativa das APM's.
No dia 17 de Outubro de 2012 estive presente numa assembleia que contou centenas de oficiais convidados pela respectiva Associação. Ainda sinto a firmeza de algumas intervenções e o entusiasmo da maioria dos presentes. Quando saí e no dia seguinte regressei a casa distante carregava esperança só assombrada pela notável minoria de oficiais do activo na reunião da véspera.
Aquela esperança tem vindo a diminuir porque os chefes militares tudo observam em desgraçado silêncio, os políticos que têm embarcado no carrocel do Poder teimam em não reconhecer alternativas a rotativistas alternantes, o primeiro-ministro parece ignorar os militares que incorporam as Forcas Armadas e deixa o ministro da Defesa fazer o que quer e como quer; o Chefe do Estado e Comandante Chefe expõe preocupantes fraquezas; a corrupção destrói precioso tecido social; as Forcas Armadas parecem desarticuladas, as mulheres e homens que nelas servem sentem-se diminuídos e o sistema de Defesa encontra-se perigosamente enfraquecido; e, sobretudo, a maioria dos Portugueses sofre e os que ainda têm forca para gritar não são ouvidos, a Saúde é degradada, a Escola empobrece e a balança da Justiça continua inclinada.
AMANHÃ,os oficiais não estarão sós. Juntar-se-ão os sargentos e as praças. Sinceramente, espero que desta vez os do activo não sejam minoria.
Daqui faço ardentes votos para que os presentes não se esqueçam que além de militares são homens e mulheres livres e cidadãos inteiros; que se mostrem aptos a constituir uma assembleia sem preconceitos nem mistificações; que sejam capazes de debater assuntos profissionais sem os desligar de todos os que a sociedade civil enfrenta; que não permitam vozes corporativistas abafarem os gritos dos Portugueses que diariamente levam vergastadas de fome e miséria desumanamente desferidas pelos governantes da austeridade; e que não deixem nenhuma voz calada nem tempo interrompido para que da assembleia não saiam acastanhados exemplos que possam entusiasmar os nacionalistas e populistas desejosos de ocupar todos os corredores de S. Bento.
Aos votos, junto a esperança de que amanhã todos os meus camaradas, companheiros e Amigos deixem senso e prudência presidir aos seus trabalhos para que quando terminarem possam dizer alto e claramente, como patriotas que não enjeitam seu juramento, qual é o verdadeiro estado das Forcas Armadas Portuguesas.
Não é tarde para fazer amanhã um dia melhor do que hoje.
Amanhã talvez aumente minha esperança de não morrer longe desesperando por Portugal.
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